O pé plano valgo é caracterizado por uma diminuição do arco plantar e desvio interno dos calcanhares, sendo um dos problemas mais freqüentes na ortopedia pediátrica.
Trata-se de uma alteração com causa multifatorial, ou seja, várias alterações interagem para que ele ocorra. A influência de fatores hereditários, genéticos e étnicos é consenso entre os diversos autores.
Aos nove meses de idade aproximadamente, quando a criança inicia os primeiros passos, é comum que ela apresente pé plano, considerado normal para essa faixa etária já que é uma consequência da quantidade de tecido adiposo (tecido de gordura) na planta do pé. Em situação normal, é conhecido como pé plano postural.
No entanto, se essa característica se mantém a partir dos três anos de idade, ou seja, antes da ocorrência de uma formação estrutural do pé, é fundamental a realização de exames que permitam concluir sobre o diagnóstico correto e verificar a necessidade ou não da aplicação de um tratamento.
A análise prévia envolve uma avaliação biomecânica e postural englobando: avaliação articular; avaliação muscular; observação estática e dinâmica do caminhar; medição de ângulos e exame de podometria computorizado em estática e dinâmica.
Em alguns casos, a criança com pé plano valgo demonstr dor no arco interno do pé, além de dor no calcanhar e tornozelo que intensifica ao correr ou até mesmo ao andar. Em consequência de um mau funcionamento e apoio do pé, podem aparecer dores nos joelhos, bacia e coluna vertebral.
Dependendo do caso, o pé plano valgo pode ser caracterizado como leve, moderado ou grave. Quando a criança não apresenta sintomas e a deformidade considera-se leve é necessário realizar com o podologista consultas de avaliação biomecânica periódicas de 6 em 6 meses ou anualmente para controlar a evolução da deformidade.
Tratamentos específicos são indicados aos casos moderados e graves, com sintomas persistentes. Na maioria dos casos, os tratamentos utilizados são conservadores, que envolvem desde a adaptação personalizada de palmilhas até orientações como alongamento e treinos de marcha, que agem controlando a diminuição do arco plantar e a posição do calcanhar quando a criança caminha. Programas de reabilitação com reforço muscular da musculatura intrínseca do pé também pode ser empregado. A intervenção cirúrgica deve ser considerada nos casos de pé plano valgo rígido, ou seja, sem mobilidade e com sintomas incapacitantes que não responderam positivamente ao uso de palmilhas e a outros tratamentos conservadores.
É importante ressaltar que os casos de insucesso de tratamentos convencionais, quando indicados, se devem na maioria das vezes ao abandono do tratamento antes do tempo previsto. Além disso, cada caso deve ser tratado individualmente, e somente um médico especialista, com a cooperação do próprio paciente, será capaz de tratar de forma adequada esse tipo de deformidade.